O corpo feminino

A trajetória do corpo feminino ao longo dos anos

Desde a antiguidade, o corpo feminino esteve ligado ao conceito de cultura do belo e objetificação – influências que assombram nossa sociedade até os dias de hoje, sendo que, desde então, para estar dentro do padrão, os corpos sempre precisaram ser equilibrados, robustos e proporcionais, de acordo com o padrão de cada época, que foi se alterando de acordo com a passagem dos anos e gerações.

As mulheres sempre sofreram, apelando para métodos arriscados, para se encaixarem nesse conceito de corpo ideal. Hoje em dia, com a mídia, principalmente com a televisão, essa busca pela perfeição somente se intensificou, entretanto os jovens e a própria internet vêm buscando uma mudança de narrativa, que possibilite um local de fala, repleto de diversidade, inclusão, conscientização sobre os riscos da comparação e a necessidade de autoaceitação, que reflete na insegurança em diversos aspectos da nossa vida.

“Eu sempre fui acima do peso, desde pequena, mas eu sempre me amei desse jeito. Porém, é claro, que mesmo quando pequena, eu ouvi muita coisa, por parte do meu pai, avós e tias. Antigamente, isso me afetava, apesar disso eu sempre gostei de quem eu era, mas emagreci na adolescência para agradar o meu pai e me tornei uma pessoa triste, pois eu não me reconhecia”, conta Ana Paula Santos, professora.

Ao longo da história, sabemos que os padrões estéticos, principalmente os femininos, mudaram muito com o passar dos anos, em decorrência dos direitos femininos que foram sendo conquistados.

A esteticista Rosana Barbosa conta que ao atender às suas clientes, ela percebe que todas estão em busca da beleza, por meio de uma obsessão, que nunca há um caminho e uma saída para a satisfação. Além disso, Rosana ressalta que procura reforçar às suas clientes que elas precisam se enxergar, reconhecer e auto aceitar como são, para que saiam da busca inalcançável pela perfeição, que pode levar à depressão e à solidão.

Para a psicóloga Fernanda Oliveira, esses padrões são construídos através da comparação dos corpos publicados nas redes sociais, ou seja, dos influenciadores, com estruturas corporais inalcançáveis e considerados tão perfeitos. Dessa forma, os internautas acabam buscando uma perfeição em todos os aspectos e com isso, nada é satisfatório, já que é uma busca incessante pelo padrão.

Hoje, as mulheres são livres e independentes. Não são apenas mães e donas dos lares pois, atualmente, já conquistaram os seus locais no mercado de trabalho e na sociedade, com direitos e deveres, equiparados aos dos homens.

Inclusive, no livro “Pare de se odiar” (2019), da Alexandra Gurgel, fundadora do Movimento Corpo Livre (#CorpoLivre) nas redes sociais, baseado no body positive, ela fala que o machismo é a raiz do ódio corporal, pois as mulheres crescem e se desenvolvem esperando sempre por um reforço masculino, a autoestima é baseada no quanto nos sentimos atraentes e bem vistas pela sociedade.

“Se pararmos para analisar,  cada época tem o seu padrão de beleza. Hoje em dia, ele está bem difundido, não há tantas particularidades – cada tribo tem o seu estilo. A beleza se tornou um commodity, cada grupo desenvolve o seu padrão”, diz a psicóloga Bruna Lima.

Os meios de comunicação impactam fortemente na construção da identidade das mulheres, principalmente nos dias atuais. Com esses canais, as mulheres passam a se comparar e a buscar um ideal inalcançável.

Para entendermos um pouco mais sobre as transições dos corpos ideias femininos, vamos dar uma volta no tempo e acompanhar esta viagem no decorrer do desenvolvimento da sociedade?

Grécia Antiga:

Neste período, surge o padrão estético, baseado na perfeição dos deuses e corpos de atletas. Os corpos apresentavam harmonia, equilíbrio e medidas proporcionais, como se fossem desenhados e esculturas, com os músculos aparentes, trazendo um ar de saúde e sensualidade.

Idade Média:

O corpo feminino passa a ser considerado uma tentação, por meio de influências religiosas. Os estilos de roupas mudam e começa-se a cobrir o corpo todo para se conectar com o divino.

Renascimento:

O corpo feminino torna-se valorizado e passa a ser exibido em obras de arte, com seios grandes, quadris largos e a famosa “pochete”, representada nas barrigas.

Anos 1910:

As mulheres, além de precisar apresentar seios grandes e cintura fina, precisa ter comportamentos elegantes, educados e simpáticos.

Anos 1920:

Surge o padrão feminino com cabelos curtos, sobrancelhas bem finas e lábios com formas de coração.

Anos 1930:

A partir desse momento, as mulheres começam a trabalhar fora de casa e com isso, surgem modelos de roupa e o padrão estético mais clássico, com tudo reto. A estética se baseava na face, com cílios grandes e sobrancelhas arqueadas.

Anos 1940:

O padrão corporal seguia as influências do cinema e com a chegada da 2ª Guerra Mundial, as mulheres precisavam apresentar corpos fortes e robustos.

Anos 1950:

Os corpos mais robustos passam a ser o padrão, tendo como referência os estilos das atrizes de Hollywood, como Marilyn Monroe. A partir desse momento, também houve a valorização dos cabelos loiros e o início das descolorações capilares.

Anos 1960:

Os corpos voltaram a seguir os padrões de magreza, mas, neste momento, o foco era nos olhares e lábios claros.

Anos 1970:

Neste momento, os cabelos utilizados pelas mulheres passaram a ser mais curtos e houve o aumento do uso de maquiagens.

Anos 1980:

Nesse momento, as cirurgias plásticas se tornam uma grande febre e havia o uso de roupas extravagantes, com cortes de cabelos bem armados, inspirados na Madonna.

Anos 1990:

O visual das mulheres passavam o ar de cansaço, pois os padrões seguiam a magreza extrema, com pescoços, braços e pernas bem finos.

Anos 2000:

Surgimento da busca incessante pelo corpo perfeito - bunda grande, seios médios, curvas marcadas e barriga definida

Anos 2010 - Atualmente:

Não há um padrão a ser seguido, as mulheres estão buscando mais liberdade corporal.