Envelheci, e agora?

Envelhecer é um medo que cerca a maioria das mulheres

No decorrer da nossa trajetória enquanto mulher, nós ultrapassamos diversas etapas críticas, difíceis e, pensando bem, até desnecessárias, analisando em uma ótica atual. A sociedade, ainda machista, nos impõe que precisamos ser simpáticas, provedoras de amor e carinho, boas esposas e mãe, para que possamos ser respeitadas enquanto seres humanos.

Com o passar do tempo, atingimos uma fase em que a questão com o peso, se soma às inseguranças geradas pelos cabelos brancos, rugas e flacidez que começam a surgir. Apesar de representarem maturidade, esse conjunto nos causa estranheza no nosso reconhecimento como ser na sociedade, tudo parece mudar. As pessoas ao nosso redor passam a nos tratar diferente, afinal, estamos ficando velhas e a sociedade não está preparada para lidar com este acontecimento.

Além de tudo, as cobranças excessivas sobre a possibilidade de se casar e da maternidade ainda se sobressaem, afinal, é uma corrida rápida, os óvulos estão envelhecendo, não podemos perder tempo, pois a cada minuto que passa há mais dificuldade para engravidar. A sociedade, a todo momento, nos indaga o porquê de uma mulher não ter o desejo de ser mãe, gerar em seu ventre e criar diversos filhos.

O medo de envelhecer começa a surgir e vai se intensificando. O medo de não ser mais útil para sociedade, para o mercado de trabalho, de ter liberdade para tomar decisões e, simplesmente, para viver da forma que julgamos ser adequada nos assombra. A sociedade, quando começamos a envelhecer, nos impede de sobrevivermos como mulheres e até mesmo, como seres humanos, de podermos nos apaixonar e quem sabe, até mesmo, sentir prazer. Que loucura, não é mesmo?

Segundo a psicóloga Fernanda Oliveira, nenhuma de suas pacientes quer se reconhecer como “velhas”. Elas relatam que a sociedade as tratam diferentes por estarem envelhecendo, começam a tratar como uma certa invalidez e se sentem excluídas da sociedade, já que as pessoas passam a não se direcionar mais à elas, como se essas mulheres “idosas” não possam fazer escolhas e tomar decisões.

Além desses medos, temos receio da solidão. Por que? Pelo fato de que a sociedade não sabe lidar com pessoas mais velhas, em questão de senioridade. Mesmo mais velhos, podem ainda contribuir para a economia, mercado de trabalho, família e amizades. Temos um pensamento enraizado de que ser velho é sinônimo de ser inútil.

Fernanda acrescenta que o envelhecimento feminino para a sociedade significa que as mulheres, com o passar do tempo, não podem mais sentir prazer, amar, se casar, simplesmente, porque o julgamento é de que esse período já passou. Agora, nesta nova fase,  é o momento de ser a “vovó” e de se esconder por trás dos produtos anti-envelhecimento.

O mercado de trabalho é um dos maiores vilões neste processo. Quando nos tornamos mães, temos receio em ser desligadas da empresa, afinal, filhos dão trabalho e exigem muito, né? Além disso, quando chegamos na casa dos cinquenta anos, junto da grande porção de cabelos brancos, surge o nosso medo em não poder contribuir mais para uma companhia.

Recentemente, tivemos o caso da jornalista canadense, Lisa LaFlammense, que foi demitida do canal CVT News, após 35 anos de carreira, por assumir os seus cabelos grisalhos. Durante a audiência, houve muita repercussão negativa sobre a mudança de visual da jornalista e com isso, o canal notificou Lisa para voltar a pintar os seus cabelos, ela negou e foi demitida do local.

Em contrapartida, na trajetória do autoamor e conhecimento, muitas mulheres acabam tendo esse processo mais facilitado com o passar do tempo e a chegada dos fios brancos, como é o caso da Lize Nascimento, atriz profissional, palestrante e psicanalista, de 55 anos.

Ela conta que possui uma relação de amor e ódio com o seu corpo, mas que hoje, entende a importância de fazer as pazes com o seu corpo e enxerga que a mídia reforça que nós não devemos gostar dos nossos corpos e de como somos.

“O envelhecer me trouxe o autoconhecimento e, hoje em dia, aceito muito mais o meu corpo. Estou vivendo o tempo mais amoroso comigo mesma. Na década de 80, eu tinha o corpo perfeito, com seios fartos, apesar de estar dentro do padrão, eu era muito mais insatisfeita com o meu corpo, porque eu não tinha a consciência corporal e amor próprio que desenvolvi hoje”, diz Lize Nascimento.

Dessa forma, entendemos que o processo de envelhecimento pode ser mais leve quando há auto aceitação e reconhecimento, entretanto a sociedade ainda precisa deixar para trás o preconceito e entender que envelhecer é um processo natural para todos.